A secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Pinheiro, disse que o estudo que serviu de base para a decisão da Organização Mundial da Saúde (OMS) de suspender testes com hidroxicloroquina para tratamento da Covid-19, publicado na revista “The Lancet”, não tem uma metodologia “aceitável para servir de referência”.
“O estudo [da Lancet] não é um ensaio clínico, é apenas um banco de dados coletado de vários países. Não entra em um estudo metodologicamente aceitável para servir de referência para outros países muito menos para o Brasil”, disse Pinheiro.
A secretária disse que a pasta acompanha 216 protocolos de uso da cloroquina no tratamento da doença em países como Estados Unidos, Turquia e Índia. Segundo ela, os técnicos do Ministério da Saúde estão “tranquilos e serenos” quanto à orientação que dá autonomia para os médicos oferecerem esse tratamento a pacientes “que assim desejarem”.
Suspensão de testes
Nesta segunda, a OMS pediu a suspensão de testes com o uso da hidroxicloroquina no tratamento da infecção pelo novo coronavírus após a constatação no aumento no risco de mortes.
A suspensão temporária foi tomada até que a segurança da droga seja reavaliada, já que estudos recentes mostraram que ela não é eficaz contra a Covid-19 e pode aumentar a taxa de mortalidade.
O diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou que a suspensão foi determinada depois da divulgação dos resultados do estudo publicado na sexta-feira (22) na revista “The Lancet”.
Estudo com 96 mil pessoas
A pesquisa publicada na revista científica, feita com 96 mil pessoas, apontou que não houve eficácia das substâncias contra a Covid-19 e detectou risco de arritmia cardíaca nos pacientes que as utilizaram.
Dados do estudo:
- 96.032 pacientes internados foram observados;
- Idade média de 53,8 anos com 46,3% de mulheres;
- Pacientes são de 671 hospitais em 6 continentes;
- 14.888 pacientes receberam 4 tipos de tratamentos diferentes com a cloroquina e a hidroxicloroquina;
- As hospitalizações ocorreram entre 20 de dezembro de 2019 e 14 de abril de 2020.
O grupo de cientistas comparou os resultados de 1.868 pessoas que receberam apenas cloroquina, 3.016 que receberam só hidroxicloroquina, 3.783 que tomaram a combinação de cloroquina e macrólidos (uma classe de antibióticos), e mais 6.221 pacientes com hidroxicloroquina e macrólidos. O grupo controle, que serve para comparação e não fez uso dos medicamentos, é formado por 81.144 pacientes.
No final do período, 1 a cada 11 pacientes do grupo controle havia morrido – 7.530 pessoas (9,3%). Todos os quatro tipos de tratamento foram associados com um risco maior de morrer no hospital:
Dos que apenas usaram cloroquina ou hidroxicloroquina, cerca de 1 a cada 6 pacientes morreram. Foram 307 pessoas que tomaram cloroquina (16,4%) e 543 que tomaram hidroxicloroquina (18%).
Dos que tomaram cloroquina ou hidroxicloroquina com macrólidos, cerca de 1 a cada 5 pacientes morreram. Houve 839 mortes (22,2%) no caso de uso de cloroquina com antibiótico e 1.479 (23,8%) na combinação de hidroxicloroquina com antibiótico.
Os cientistas excluíram fatores que podem influenciar os resultados, como idade, raça, índice de massa corporal e outras condições associadas (doenças cardíacas, diabetes, e doenças pulmonares).
De acordo com os autores, os pacientes medicados com as substâncias apresentaram também risco maior de desenvolver arritmia cardíaca. A maior taxa foi vista em pacientes que receberam a hidroxicloroquina em combinação com os antibióticos: 8% ou 502 pessoas em um grupo de 6.221. O grupo controle, que não recebeu as substâncias, teve um índice de 0,3%.
Este é o maior estudo feito com pacientes infectados e internados com a Covid-19 e a prescrição de cloroquina e hidroxicloroquina.
Informações do G1
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