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Bailarina londrinense de 17 anos participa de competição nos EUA

Superando dificuldades, jovem londrinense irá para Nova York disputar concurso de balé.

 

Mãe, filha e professora brincam com a proposta de um grupo de bailarinas fazer uma foto de figurino em meio à neve do Central Park, na cidade de Nova York, nos EUA. Essa conversa e os risos se desenrolaram na recepção do Ballet Karina Rezende, zona leste de Londrina, escola que vai levar 11 alunos para o Concurso de Ballet VKIBC (Valentina Kozlova International Ballet Competition). A disputa começa na segunda-feira (18) e entre os entusiasmados que foram selecionados está Fathma Archello, 17, a bailarina acostumada a sonhar, apesar das dificuldades.

“O balé sempre foi meu sonho. Desde que me entendo por gente eu estou envolvida com dança. Entrei para uma escola aos 10 anos e vim para cá em 2015”, revela a jovem. Acreditar que chegaria a uma competição internacional poderia parecer loucura, mas para a mãe, Sônia Archello, 47, nada é impossível. “Eu acreditei no sonho da minha filha e nós conseguimos. Para mim é fora do comum o que eu estou vivendo. Não sei como a gente chegou aqui. É Deus”, emociona-se.

Acreditar é a palavra. Sônia cuida sozinha da filha desde que ficou viúva há 13 anos. Nesse período, sofreu com desemprego, recebeu cesta básica, trabalhou como diarista e contou com muita ajuda de amigos para cuidar da menina caçula entre os quatro filhos. Apesar disso, nunca deixou de incentivá-la, o que Fathma lembra muito bem. “No começo foi difícil, tinha que ir a pé para o balé, a gente fazia uma caminhada longa, porque não tinha dinheiro para ônibus”, revela a jovem. A mãe ficava para o lado de fora esperando a aula terminar para que as duas voltassem juntas. “Tinha que ser assim, senão seriam dois passes para eu ir trabalhar e dois para ela, não dava, então a gente voltava a pé mesmo”, comenta a mãe.

Arrependimento nenhum. Fathma hoje é bolsista integral na escola que está levando 11 alunos selecionados para concurso nos EUA e também foi convidada a dar aulas no local. “Terminei o colégio, agora estou focada no balé”, afirma. Nestes sete anos estudando, ensaiando, participando de festivais, vê o momento como grande oportunidade, já que a competição traz a chance de carreira internacional, com disponibilização de bolsas, trainees e contratações de bailarinos.

 

 

Luta diária

Era lá no jardim Esperança (zona sul) que se iniciava e finalizava o dia cansativo, mas se todo o processo teve suas dificuldades, não foi diferente para conseguir custear a viagem. Após a seletivas em São Paulo, era o momento de decidir se Fathma iria ou não para Nova York. “Nós fizemos uma reunião com os pais e eu fiquei preocupada se a Sônia teria condições, mas ela teve fé, acreditou, disse que a Fathma iria”, conta a professora Karina Rezende, 39.

O grupo de pais se uniu em promoções, a escola promoveu espetáculos, recebeu apoio de algumas empresas e mesmo assim o dinheiro arrecadado não foi suficiente para custear todas as despesas. Alguns pais conseguem complementar, mas Sônia não teria de onde acrescentar até juntar forças. “Os tios dela por parte de pai ajudaram com uma quantia e a minha irmã veio me visitar no final do ano e permitiu que eu usasse o cartão de crédito dela para que eu pudesse parcelar as passagens e hospedagens em 10 vezes”, explica Sônia.

Não que o dinheiro não fará falta, Sônia já prevê onde vai ter que apertar as contas para pagar a dívida. “Vou chorar por conta disso? Não. Isso moveu tudo, é Deus na nossa vida e eu ainda vejo uma grande porta abrindo”, vislumbra. As roupas de frio também foram cedidas para que pudesse viver os nove dias de competição com conforto. “Deu tudo muito certo. É difícil falar, eu acreditei que daria certo e nós conseguimos tudo: visto, passagem, hospedagem”, conta a mãe.

No sábado (16), o grupo parte rumo aos EUA para apresentar oito trabalhos selecionados. Do lado de cá, uma mãe com muita fé, do outro, uma filha com gratidão e esperança. “A gente está preparado, queremos ganhar, mas só de ter sido selecionada para lá já está sendo um prêmio”, sorri com timidez a menina que aprendeu a acreditar nos sonhos.

Via Folha de Londrina

Fotos: Ricardo Chicarelli

 

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