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Pesquisadores da UEL analisam impactos da pandemia na produção do leite no Paraná

Ainda são poucos os estudos dos efeitos da pandemia na sociedade, mesmo no setor econômico. O Laboratório de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Lipoa), da Universidade Estadual de Londrina (UEL), porém, já detectou alguns efeitos na qualidade do leite consumido na região Norte do Paraná. Nada que possa preocupar o consumidor, mas qualquer alteração é registrada e informada à Vigilância Sanitária, que rotineiramente solicita as análises.

A Vigilância percorre os estabelecimentos comerciais, coleta amostras e as encaminha ao Lipoa, que faz uma análise microbiológica e físico-química do leite, produzido em cerca de 20 laticínios de 13 municípios da região. A análise microbiológica verifica a quantidade de bactérias presentes no produto. A físico-química foca níveis de gordura, presença de enzima (pós-pasteurização) e de água, através da técnica de crioscopia (congelamento).

Segundo o professor Rafael Fagnani, do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva (CCA) e chefe do laboratório, além da queda na demanda e altas nos preços de produtos lácteos, sempre notadas pelo consumidor, as indústrias lácteas também enfrentaram dificuldades internas, principalmente para atender aos parâmetros de qualidade exigidos na produção de leite pasteurizado. Vale notar que o estudo do Lipoa se refere ao período 2015-2020, ou seja, abrange o início da pandemia, e não seu auge.

“Para termos uma ideia mais clara, no primeiro ano da pandemia a taxa de não conformidades para a crioscopia foi 50 vezes maior quando comparada à média dos 5 anos anteriores”, diz o professor. A maior quantidade de água tanto pode ser deliberada quanto resultado de um problema no enxágue (limpeza) do equipamento de produção. Uma possível explicação está na redução de funcionários no período de quarentena, somada ao acesso irregular aos insumos de processamento, como ração animal, combustível, máquinas de ordenha e vacinas, entre outros. A própria fiscalização sofreu os efeitos das medidas sanitárias e, assim, até o laboratório percebeu um impacto. Num ano típico, ele recebia aproximadamente 900 amostras para análise. Em 2020, chegaram menos de 300. Apesar de estar subindo, os números ainda não alcançaram o patamar pré-pandêmico.

De acordo com a análise, a principal dificuldade dos laticínios do Norte paranaense está na adequação quanto à quantidade de bactérias no leite pasteurizado. O estudo revelou que cerca de 8% das amostras recebidas entre 2015 e 2020 não atenderam esse parâmetro, mostrando contaminações após o processo de pasteurização. “Essas falhas estão relacionadas principalmente à limpeza industrial”, afirma o professor Rafael.

PARCERIA – O Lipoa monitora a qualidade do leite há mais de 30 anos. Periodicamente, os dados são analisados pela equipe técnica e submetidos à publicação em revistas científicas. Nessa última compilação, foram analisadas quase 1.800 amostras (2015 e 2020). Os dados já foram aceitos em um importante periódico internacional, o Journal of Dairy Research. O objetivo é alertar órgãos fiscalizadores e profissionais do setor, expondo os problemas mais recorrentes.

O laboratório trabalha em ações de extensão para mitigar essa problemática e auxiliar laticínios na garantia da qualidade, fornecendo cursos e serviços de assessoria e consultoria. Atualmente, recebe apoio do Instituto Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação – Leite, coordenado pelo professor Amauri Alcindo Alfieri , também do CCA/UEL. A equipe é composta por dois professores, um técnico de nível superior, oito residentes e vários alunos de Mestrado e Doutorado (Ciência Animal) e Iniciação Científica (IC).

Via Aen

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