A direção do Colégio Estadual Hugo Simas, em Londrina, divulgou uma nota de esclarecimento acerca do espetáculo teatral “Quando quebra queima”, apresentado na escola na noite da última sexta-feira (1º). A peça, promovida dentro do Filo (Festival Internacional de Londrina) foi alvo de críticas por parte da mãe de uma aluna, Fernanda Leite Carvalhaes, que gravou um vídeo relatando a situação nas redes sociais.
O vídeo viralizou e outros pais também se manifestaram contra a apresentação artística. A mãe afirmou no vídeo que a apresentação fazia apologia à violência e rebelião contra a polícia e que apresentava ideologia de gênero, com cenas de relacionamentos homoafetivos, o que revoltou a mãe.
Leia a nota, na íntegra:
“A direção do Colégio Estadual Hugo Simas, diante dos últimos acontecimentos, vem a público prestar os seguintes esclarecimentos acerca da apresentação teatral do FILO – Festival Internacional de Londrina, realizada nesta instituição de ensino na última sexta-feira, 01 de novembro de 2019, no período noturno. Inicialmente, cumpre informar que a mencionada atividade cultural faz parte da programação do FILO, um dos mais importantes eventos culturais realizados anualmente nesta cidade. Ademais, esclarece-se que a apresentação estava programada para ocorrer em outra escola estadual do município de Londrina e, diante da impossibilidade de se realizar o espetáculo no local previamente agendado (inviabilidade técnica), a organização do Festival solicitou que a atividade ocorresse no Colégio Estadual Hugo Simas, o que foi prontamente atendido.
O nosso colégio é a instituição pública mais antiga da cidade, e nestes mais de 80 anos, vem cumprindo um papel fundamental na disseminação da cultura e da produção artística na cidade. Cabe ressaltar, ainda, que nos últimos anos a escola também acolheu o Festival Internacional de Música de Londrina, demonstrando que o Projeto Político Pedagógico da escola tem, no diálogo e no envolvimento da comunidade escolar, um aspecto fundamental. O espetáculo, “Quando Quebra Queima”, tem classificação indicativa de 10 anos, foi um evento público, aberto à comunidade e contou com a participação dos estudantes do Ensino Médio do período noturno do colégio. A apresentação procurou trabalhar a questão das juventudes, da valorização da diversidade, do acesso à educação, dentre outros temas importantes na formação dos jovens na atualidade.
A organização do FILO, ao fazer contato com a direção escolar, informou que o grupo artístico e o espetáculo já foram apresentados na Mostra Internacional de São Paulo/Paralela e em outros importantes festivais do Brasil e do Mundo. As temáticas abordadas na apresentação compõem as Diretrizes Estaduais da Educação de várias disciplinas que estão previstas na organização curricular do Ensino Médio no Paraná. Ademais, o respeito à diversidade, a liberdade de aprender e ensinar e o pluralismo de ideias encontram proteção no texto da Constituição Federal (CF, art. 3º, inc. IV e art. 206, inc.II), na Lei de Diretrizes e Bases da Educação e em diversas leis e instruções normativas estaduais, tais como a lei n° 16.454/2010, que instituiu o Dia Estadual de Combate a Homofobia no Paraná e a Instrução n° 010/2010-SUED/SEED, que regulamenta a ação das Equipes Multidisciplinares para tratar da Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afrobrasileira, Africana e Indígena.
Diante das informações equivocadas que circulam na imprensa e nas redes sociais, é oportuno ressaltar que, por se tratar de uma atividade escolar, se faz necessário o controle de frequência dos estudantes. A direção escolar, de forma responsável, como sempre faz, não autoriza a dispensa de estudantes menores sem autorização de pais e ou responsáveis. Além disso, a lei estadual n°18.118/14 proíbe o uso de aparelhos/equipamentos eletrônicos durante os horários de aulas em estabelecimentos de ensino.
Outrossim, permitir a filmagem de um espetáculo teatral viola os direitos autorais e expõe a imagem dos adolescentes de forma indevida. A interpretação equivocada da atividade supracitada gera uma exposição, criminalização e insegurança dos professores (as) e funcionários (as) da escola, bem como prejudica o desenvolvimento das atividades escolares. O nosso colégio tem uma História de contribuição com a construção de uma educação pública e de qualidade em Londrina, além disso, conta com um quadro de docentes altamente qualificados e comprometidos com o ensino, conforme também observado nas últimas avaliações externas, como Prova Paraná, SAEP e Prova Brasil, levando ao aumento em nosso índice do IDEB. Por fim, a escola reafirma seu compromisso com o diálogo aberto, democrático e com uma educação pública e de qualidade.”
Veja o vídeo gravado por Fernanda:
De acordo com a sinopse divulgada pelo Filo, o espetáculo “Quando quebra queima” tem performers e estudantes que participaram do movimento secundarista entre 2015/2016 e viveram intensamente o processo de ocupações e manifestações. “Fruto da primavera secundarista, 16 corpos insurgentes deslocam para a cena a experiência que tiveram dentro das escolas ocupadas durante meses, criando uma narrativa coletiva e comum a partir da perspectiva de quem viveu o dia a dia dentro deste movimento, que foi um dos grandes acontecimentos políticos dos últimos anos. A montagem, que está na fronteira entre performance e teatro, é uma ‘dança-luta’ coletiva construída a partir da experiência de luta e afeto de cada performer.”
Foto: SEED/PR
Vídeo: Reprodução/Redes sociais
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